Em terceiro lugar:

A Final



     Estava marcado para as sete e meia da noite. Horário justo, após o expediente, de temperatura amena, evitava o lusco-fusco e o brilho implacáveldo Sol. O palco seria a velha quadra pública da Praça Getúlio Vargas, em frente à mercearia de Seu Tomás, que de muito bom grado aceitou o convite para ser o árbitro, dado que era conhecido entusiasta do Campeonato Municipal de Serra Alegre.

     Era a finalíssima. Após boa campanha, o Trevinho encarava o São Vicente, que seguia invicto. Evento importante, contaria com a presença do prefeito, que mandou consertar grades da quadra, mesmo sabendo muito bem que não era ano de eleição. Padre Gregório, que conduzira a missa das seis, também estaria presente. Era zagueiro do Trevinho, escolhido por sua envergadura de quase dois metros,vantagem indiscutível nos cabeceios. Há que se dizer, no entanto, que a empreitada de lançar-lhe a bola na altura das caras não seria nem de bom grado e nem de grande proveito, visto que usava óculos.

     Seis de cada lado, meia hora por período, começa a partida. Dezoito do primeiro tempo. Após rebote espalmado com pouca técnica, Agenor, sujeito de muita visão e perícia, que jogava descalço para sentir melhor a bola no pé, de meia-bicicleta à entrada da área, desfere de primeira um chutaço desses de filme. Jogada perfeita. Ou seria, caso o gol fosse meio metro mais alto. Agenor recebeu cumprimentos enquanto esperava Julinho buscar a bola, que caiu ao lado da bica, do outro lado da praça.

     No fim das contas o São Vicente ganhou por um a zero, conforme esperado, com gol de Marcola em jogada individual, o que também não era novidade: era sabido por todos que Marcola era fominha. Ainda assim só se falava mesmo era na jogada do Agenor e do gol que não foi, mas que, se fosse, teria sido. Afinal, o futebol às vezes mora no quase.


Autor: Thales Linke
Curso: Relações Internacionais
Campus: Coração Eucarístico